Entrevista no Blog: Alfabeto de plantas: deAlecrim a Zedoária- Bruna Ester Yamashita

Olá Professores, professoras e demais público que acompanham o blog, já compartilhamos como dica de livros o livro: "Alfabeto de Plantas: de Alecrim a Zedoária". Pois além de ser um interessante livro para ser usado como recurso pedagógico e iniciar com a horta nas escolas de Educação Infantil, sua produção é de uma professora aqui de Londrina, e porque não destacar as nossas escritoras locais?




Entramos em contato com a Bruna Ester Yamashita e realizamos uma entrevista pelo meio digital, confira conosco o contexto histórico deste livro:

Entrevista com Bruna Ester Yamashita


1- Qual sua formação, idade, cidade natal e atual? (Demais informações pessoais).

"Tenho 39 anos, mãe de 3: Gabriel (13), João (11) e Isabela (8). Sou formada em pedagogia (2004) pela UEL. Especialista em Gestão Educacional (UNIRIO), Mestra em Educação e doutoranda em Educação, ambos na UEL. Natural de Tamarana e residente em Londrina". 

2- Em que escola você trabalha?

"Trabalho na Escola Municipal Maria Carmelita Vilela Magalhães".  (LONDRINA-PR)

3- Há quanto tempo trabalha com a educação? 

"Professora há 22 anos na rede privada e pública, atuando nas funções de professora de educação infantil, fundamental, tutora individual e coordenação pedagógica". 

4- Você costuma sempre realizar estes tipos de “atividades diferenciadas”?

"Sempre. Eu sou apaixonada por escola. Desde muito pequena, antes de ingressar nela, eu já queria fazer parte da escola. Eu era criada por um doce mãe viúva e tinha um irmão mais novo, nossa vida era muito difícil e de pouquíssimos recursos. Assim, a grande novidade, de direito e acesso a todos, era a escola e eu não via a hora de conquistar esse direito, me lembro claramente. Desde que entrei para a escola eu me apaixonei e durante toda a minha vida eu elaborei em meus pensamentos como seria o dia em que me tornaria professora. Tudo que vivi, os lugares que conheci, as novidades que encontrei pelo caminho, as músicas que aprendi, as plantas que cheirei, as brincadeiras na roça, tudo me fazia professora e de cada passagem, de cada caminho, eu levava algo comigo para usar um dia na escola, era natural. Assim, desde que me tornei professora, aos 17 anos, eu levo esse mundão todo que me fez, mais o meu violão, para as conversas e rodas com as crianças. Sempre gostei de rodas, do olho no olho, das historinhas contadas na simplicidade do cotidiano pois acredito que são nelas, nas historinhas, que estão os melhores caminhos a seguir para aprender com as crianças. Nas rodas elas mostram os mapas dos tesouros e aprender se torna mais significativo e pessoal. No caso da roda da turminha de 2019, o mapa que me deram, entre alguns outros, as plantas foi a grande pista".

5- Onde tudo começou? Como se deu o início de tudo até a publicação do livro? (esta informações, foi repassa por meio de um PDF sobre a historia do livro). 

“Os encontros costumam começar por uma pergunta. Na escola, pelo menos, é assim, aliás, por várias perguntas. A obra Alfabeto de plantas: de Alecrim a Zedoária nasceu de uma primeira pergunta: “o que você deseja aprender?”. Essa pergunta e esse encontro se deram no primeiro dia de aula no ano de 2019. A turma era de 24 alunos, um primeiro ano dos anos iniciais do ensino fundamental, em uma escola pública no município de Londrina (PR). Uma de minhas perguntas provocou um silêncio: “o que vocês desejam aprender durante esse ano.” A pergunta fez com que uma criança olhasse para a outra sem saber muito o que responder, parecia que ninguém havia feito essa pergunta a elas em outra ocasião. Diante do silêncio com a tal pergunta, a reformulei: “Como vocês querem aprender a ler e escrever durante o tempo em que estivermos juntos?”. Continuei dizendo que elas poderiam aprender a ler e escrever pesquisando sobre coisas que gostavam e se interessavam. Mostrei a elas um bloquinho de anotações com todos os seus nomes e, com o lápis à mão, me posicionei para começar a anotar tudo que elas dissessem. Complementei, dizendo: “é assim que faremos, vocês só precisam me dizer o que é que se interessam e eu anotarei. Aprenderemos a ler os livros e o mundo todo, a partir do que vocês me disserem”. O combinado era de que, ao final, somaríamos as opções de interesses em comum e começaríamos as pesquisas do ano orientados pelas escolhas da maioria, mas que, no decorrer dos dias, semanas e meses, os demais interesses — com menos votos —, seriam considerados na pesquisa naturalmente. Assim se fez, ainda tímidos, começaram a me contar seus interesses. Depois, em assembleia, contamos os resultados e traçamos um roteiro de estudos para o nosso glossário aberto. Foram 16 votos para plantas, 2 para cosméticos, 2 para astronautas, 1 para arte, 1 para dinossauros e 2 para comidas. O trabalho com o glossário aberto é uma prática que me acompanha ao longo da vida como alfabetizadora. Se trata de uma prática que entende que as letras precisam ter significado e não podem substituir a experiência vivida pela criança. Nesse sentido, o famoso “abecedário”, para mim, nunca chega pronto com palavras predeterminadas, mas sim, repleto de interrogações e que possa ser construído como um glossário aberto, democrático e muito particular, inspirados em tantos outros conjuntos de palavras, ou seja, nos tantos outros abecedários que conhecemos. Naquele momento, tínhamos entre os desejos das crianças, inúmeras palavras de A a Z a serem descobertas e que, certamente, teriam muitos significados a cada uma delas e suas histórias de vida.
Conforme combinado, a partir da escolha da maioria, construiríamos um abecedário das plantas. “Mas será que tem planta com todas as letras do alfabeto?”. Essa foi uma das primeiras perguntas que disparou as buscas pelas plantas de A a Z. A proposta de organizar uma parede da sala com o abecedário de plantas — nosso glossário particular — se tornou uma aventura em família e em comunidade, desse modo, a obra Alfabeto de plantas: de Alecrim a Zedoária foi uma construção coletiva. Os nomes das plantas chegaram até a escola por meio de pesquisas realizadas com as famílias das crianças, sobre as plantas que cultivavam em casa, sobre os temperos preferidos e sobre as que consumiam diariamente. Entre tantos nomes de plantas, as rodas de conversa ficaram cheias de histórias e de memórias familiares, que iam sendo compartilhadas. Fosse sobre um bom e velho chazinho e hortelã, sobre um temperinho indesejado por uns ou apreciado por outros, sobre uma receita deliciosa, sobre a horta que tinham em casa, entre tantos outros “assuntos verdes”. A escolha do gênero literário para registrar as descobertas se deu pela leveza da poesia, o que permite a brincadeira com as palavras, algo muito significativo à faixa etária das crianças, tornando o conhecimento das palavras repleto de ritmo. As ilustrações de Marilia Goldschmidt trouxeram a beleza das plantas para os olhos e para o conhecimento das crianças. De uma forma muito sensível e cuidadosa, a ilustradora revelou aspectos importantes e característicos de cada uma das plantas, tornando capaz de se reconhecer cada uma delas quando vistas em ambientes naturais. Além disso, ela apresenta diferentes ambientes de cultivo das plantas, como o ambiente escolar em destaque e também o doméstico. Enfim, Marília mostra as plantas na escola, como de fato acreditamos ser possível acontecer e, além disso, aos cuidados das próprias crianças. Esse contexto se torna um convite aos pequenos leitores para, quem sabe, pensar estratégias e desejar também plantar uma, duas ou dezenas de plantas pelos cantinhos desocupados que encontrarem pelo caminho".

6- Como foi a reação dos pais?

"Eles foram meus grandes parceiros, sempre são quando são de fato convidados a fazer parte. Esses especificamente, embarcaram na aventura em busca das mudas, uma mãe até encomendou uma planta de Santa Catarina. Confiaram em mim para visitar a Pacha Mama e se alegram com isso, participaram da culinárias ao longo do ano e sempre estiveram presentes".

7- As crianças ficaram animadas com a atividade? E depois com a publicação do livro?

"A ideia do livro surgiu final de março daquele ano, quando escrevi a poesia do Manjericão, que tinha a letra inicial de Março e que também estávamos pesquisando sobre ele. Brinquei com rimas junto com as crianças trazendo o que havíamos descoberto, elas riam que riam! Naquele movimento me deu um clic, ali mesmo na sala de aula: “Nossa, acho que vou escrever uma poesia para cada planta que escolhermos para o alfabeto”. No mesmo momento eu compartilhei meus pensamentos com as crianças e também falei sobre a possibilidade de construirmos um livro, mas deixei claro que elas seriam minhas ilustradoras -conversas de sala de aula. É claro que elas toparam e animadíssimas. Assim foi, conforme realizávamos as pesquisas sobre cada planta, eu escrevia a poesia. Elas me ajudavam com as rimas e levavam os textos para ler em casa com a família compartilhando o conhecimento da escola. E nós fizemos um livro, a nosso modo, mas fizemos. Cada uma delas levou um de presente no final do ano, aquela versão que elas ilustraram".

"Agora elas já estão no 4 ano e quando fui mostrar a nova versão, seus olhos deixaram transparecer o resgate das memórias daquele ano cheiroso e verdinho. Pareciam não acreditar rss". 

8- Para você, o que significa essa realização? Imaginou que uma atividade em sala poderia se dar com tanto sucesso, resultando em uma publicação de um livro, que com certeza muitas outras professoras o utilizarão como recurso pedagógico?

"Para mim significa amor, resistência e resiliência. Também significa possibilidade, pois através desse livro eu consegui materializar aquilo que tanto acredito: “é possível fazer pesquisa junto com as crianças e na escola pública”. Por incrível que pareça, fazer isso ainda é muito difícil, sempre somos cerceados de desencontros e sufocados pelas burocracias. O livro conseguiu guardar uma experiência singular para mim, uma experiência coletiva e movida pelos desejos das crianças. Foi um privilégio conduzi-las nessa jornada e ser inspirada pelo percurso. Espero que com o livro, além de conhecerem as plantas, as letras de seus nomes, quem sabe desejar plantar uma mudinha etc, professores e crianças conheçam como foi o nosso modo de transitar na burocracia da escola e do currículo, dando as mãos para eles e aprendendo nesse processo, juntos".


Queríamos agradecer a Professora Bruna Ester Yamashita por nos presentear com este livro, está inspiração e sua disponibilidade em nos responder as questões sobre sua obra literária. 


IMPORTANTE: Você caro Leitor(a), que também possui, história de vivências e experiências com seus alunos, compartilhem conosco pelas nossas redes sociais! 


Publicação: Débora Fontana Borges. 

Entrevista no Blog: Alfabeto de plantas: deAlecrim a Zedoária- Bruna Ester Yamashita Entrevista no Blog: Alfabeto de plantas: deAlecrim a Zedoária- Bruna Ester Yamashita Reviewed by Blog Baguncei on julho 28, 2022 Rating: 5
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