É hora de tirar a fralda. E agora?


É hora de tirar a fralda. E agora?A entrevista da pedagoga Gisele Favoretto nos ajuda a responder essa pergunta.


No final da entrevista, disponibilizamos um texto intitulado “O controle dos esfíncteres” (Rosseti-Ferreira, et all., 2002). Boa leitura!



BaguncEI: A criança manifesta "sinais" de que está pronta para o desfralde? Que sinais seriam esses? Por que é importante considerá-los? 


Gisele: É fundamental considerar os sinais que as crianças dão sobre si mesma e sobre seu corpo. Algumas apresentam sinais claros, outras não, e por isso é tão importante ter o olhar atento  e diferenciado sobre cada indivíduo.
A decisão sobre iniciar o desfralde envolve não somente a maturidade física e emocional da criança, mas também a disponibilidade  que os adultos terão de apoiar  o processo.
Algumas crianças nos mostram que estão prontas para o desfralde, começam a se incomodar com o desconforto da fralda, não querem ser cuidadas como bebês e “pedem” por mais independência e autonomia, mostrando claramente estarem prontas.
Outros sinais podem ser reconhecidos pelos adultos como dicas de que a criança pode estar madura para deixar a fralda: ter por volta de dois anos, mostrar consciência de seu corpo e movimentos motores mais controlados, compreender as falas dos adultos e conseguir se comunicar, a fralda ficar seca por períodos mais longos e, especialmente quando a criança reconhece sua vontade de fazer xixi ou cocô e fala ou avisa o adulto, está nos mostrando que tem condições de começar a usar o banheiro.
Imagem cedida  pela entrevistada e autorizada pelos pais

BaguncEI: A escola realiza ações visando envolver os pais das crianças nesse processo? Quais são essas ações?

Gisele: Para cada faixa etária há reuniões de pais planejadas com assuntos relevantes para aquele período. Desfraldamento é um dos temas de nossas reuniões. Na ocasião apresentamos contribuições teóricas, características da faixa etária e rotinas propostas pela Apoena.





Além da reunião geral de pais, o professor ao reconhecer em seus alunos sinais oumaturidade para o desfralde, comunica a família.

BaguncEI: Como a família pode contribuir com o processo de desfralde?

Gisele: O olhar da família para cada etapa do desenvolvimento do filho vai dizer muito sobre como a criança vai se ver, reconhecer e lidar com seus sentimentos e processos. É no olhar dos pais que a criança se vê. 
Acredito que o primeiro passo da família é se conectar com o filho, estando próximos, construindo sua relação juntos.
Imagem cedida  pela entrevistada e autorizada pelos pais
Antes de iniciarmos o desfralde de cada criança, conversamos com a família, para que o início da retirada aconteça em casa, lugar onde acreditamos que devem ser iniciados  os marcos e mais importantes processos dos pequenos. Sugerimos também que família inicie no final de semana.

O desfraldamento de uma criança pequena deve ser  encarado com leveza.Não transforme o desfralde em um grande assunto e muito menos em um problema. As crianças  estão aprendendo uma nova regra social, a usar o banheiro, e vão passar por esse caminho de diferentes maneiras.  Na maioria das vezes, vários xixis e cocôs‘escaparão’ nas roupinhas, chão, em casa e lugares públicos. Por isso, os pais e cuidadores precisam estar preparados, desejando ver o filho crescer, além de serem pacientes e delicados.  Aconselhamos que os adultos não fiquem bravos, façam barganha ou exponha a criança.

BaguncEI: Quais as estratégias usadas pelo professor para promover o desfralde?

Gisele: O professor precisa ler e se informar sobre o assunto. As ações dentro da escola precisam sempre de estudo e embasamento.
Na Apoena, quando as crianças estão próximas dos dois anos, começamos a chamar a atenção do grupo para esse assunto, mostrando o banheiro, a patente, a descarga, conversando com crianças que já usam a patente ou penico, e durante as trocas de fralda  de cada um,  mostramos e perguntamos se  a fralda estava  desconfortável, por exemplo.
Brincamos muito por aqui, e banhar, trocar e limpar os bonecos são ações que fazem  parte do nosso cotidiano e que em muito ajudam a criança a pensar sobre si mesmo.
Livros que tratam do desfralde também fazem parte de nossas escolhas para essa faixa etária. Temos o “Cocô no trono – Benoit Charlat”,  “O que tem dentro de sua fralda?–Guido van Genechten ” , “ Meu penico – Leslie Patricelli ”


Os professores também  começam a mostrar como é bom crescer, envolvendo a turma nas conquistas de cada um.Chamamos esse processo inicial de ‘sensibilização para o desfralde’.

Como conversamos com cada família antes do desfralde, esperamos pelas notícias no próximo dia de aula. Na segunda-feiraa criança chega à escola nos contando a grande novidade: “ Agora eu uso calcinha/cueca!”.
Todos comemoram a conquista por aqui. Em sala, organizamos uma roda para compartilharcom toda a turma, a criança mostra que agora usa e traz  calcinhas/cuecas para escola, e diz para todos que não usa mais fraldas. É um dia especial e feliz!

 A partir desse momento não colocaremos fralda na criança, a exceção será para o momento do sono. Os professores elaboram o  planejamento  dos  próximos dias  considerando que há crianças em desfralde. Levamos ao banheiro em intervalos mais curtos e regulares e dirigimos mais atenção àquela criança durante o período, ajudando e apoiando.
Sabemos que ‘escapes’ irão acontecer, por isso é importante  a organização com a rotina, com a necessidade de mais roupas, calçados e até com panos de chão e material de limpeza em sala. Tudo para deixar o cotidiano mais simples e prático.

É fundamental que o professor não generalize e considere o processo de cada um(não só no desfralde!). Cada criança é única e por isso  buscamos compreender seus sentimentos e necessidades, e é isso que faz toda a diferença!




É hora de tirar a fralda. E agora? É hora de tirar a fralda. E agora? Reviewed by Blog Baguncei on julho 11, 2018 Rating: 5
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